História

Em 1600, a região do Litoral Norte do Rio Grande do Sul era habitada apenas por índios Carijós. Em 1605, missionários jesuítas viajaram do Rio de Janeiro para cá com o objetivo de catequizá-los e protegê-los da ação dos bandeirantes paulistas que vinham ao Sul capturá-los para o trabalho escravo nas fazendas de São Paulo. A origem do nome de Três Cachoeiras deu-se, possivelmente, nesta época, de 1605 a 1615, por viajantes paulistas que encontraram três cachoeiras, distantes entre si cerca de 80 metros e localizadas ao norte da sede do município, na encosta do morro mais tarde denominado “dos Pereira”.

Encantado com a beleza do local, um viajante paulista deixou inscritas à faca, em grossa árvore, as letras “T.C.” – Três Cachoeiras – e duas cruzes, símbolo que os bandeirantes usavam no pescoço.

Em 1820 os portugueses oriundos dos Açores imigraram para o Brasil e, em Três Cachoeiras, instalaram-se quinze famílias. Dedicavam-se à pequena agricultura, caça e pesca. Mais tarde, em 1826, os imigrantes alemães estabeleceram-se na Colônia São Pedro e Três Forquilhas. Daí a origem da colonização de Três Cachoeiras.

Em 1907, com a chegada de José Felipe Schaeffer, Três Cachoeiras passou a ter aspecto de povoado. Homem trabalhador e ordeiro, de espírito idealista e decisivo, foi responsável pela formação do núcleo urbano. Preocupado com as ações comunitárias, reunia o povo aos domingos para rezar o terço em frente à cruz de João Dias. Em 1910 foi realizada a primeira missa, em sua casa, surgindo daí a ideia de construção da primeira capela, o que ocorreu em 1923. José Felipe Schaeffer foi quem construiu, também, a primeira escola da região.

Três Cachoeiras passou a ser distrito de Torres (município sede) em 1956. Por seu grande desenvolvimento, devido à abertura da BR 101 que atraiu para cá centenas de famílias, em 29 de abril de 1988, Três  Cachoeiras” foi emancipada através da Lei Estadual N° 8.578, que a transformou no município progressista e promissor de hoje.

MOTIVOS DA EMANCIPAÇÃO

Escrito por Diário Gazeta

Conforme análise de diversas lideranças e autoridades consultadas sobre o assunto (no passado e atualmente), esses foram os principais motivos que levaram o então Distrito Três Cachoeiras a emancipar-se de Torres:

– Abertura da BR 101 fortalecendo o comércio e a agricultura da região;

– O sentimento de “liberdade, independência” das lideranças que desejavam libertar-se de Torres e conduzir os destinos do município e seus habitantes;

– O sentimento de “orgulho” da terra natal (ou adotiva, para os que vieram de outras regiões);

– A visão da “oportunidade da ocasião”. Ou seja, aproveitar que a Legislação era favorável e propícia à emancipação;

– A existência de uma infraestrutura mínima que atendia a Legislação referente à emancipação, como escolas, energia elétrica, telefonia (em desenvolvimento),  cooperativa de produtores agrícolas, comércio estabelecido, atividade dos caminhoneiros e empresas prestadoras de serviços, posto dos Correios, posto policial, agência bancária, lideranças políticas locais com boa representatividade (dos 15 vereadores de Torres, 7 eram de Três Cachoeiras) municipal e projeção estadual, quantidade suficiente de habitantes e eleitores.

– Apoio das 25 comunidades que integravam a área emancipada;

– Não objeção do prefeito de Torres à época, Clóvis Webber Rodrigues, à emancipação da área.

NO INÍCIO, MORRO AZUL E SANTO ANJO DA GUARDA ERAM CONTRÁRIOS À EMANCIPAÇÃO

As localidades de Morro Azul e Santo Anjo da Guarda eram praticamente os únicos redutos em que havia rejeição parcial à emancipação de Três Cachoeiras. Ou por medo (de deixar de pertencer a Torres e não acreditar no futuro do novo município de Três Cachoeiras), ou por se deixar levar por interesses politiqueiros à época.

O fato é que em Santo Anjo da Guarda havia uma resistência inicial ao surgimento do município por parte de alguns moradores, em especial de “Miguelzinho” que assinava os mandatos de segurança junto à Justiça Eleitoral, tentando impedir a realização do plebiscito. Já em Morro Azul era praticamente quase a totalidade da população.

Morro Azul aceitava a emancipação de Três Cachoeiras desde que fosse a sede do novo município, o que, geograficamente era um contrassenso, pois o desenvolvimento da região tinha por base a BR 101. Na verdadeira história do município de Três Cachoeiras esses dois registros são obrigatórios e não devem ser omitidos. 

 PLEBISCITO 

No plebiscito realizado em 20 de dezembro de 1987 para a população dizer SIM (à emancipação) ou NÃO, houve 500 votos NÃO, 33 brancos e 19 nulos (contra 2.730 SIM). Santo Anjo da Guarda ficou integrado ao novo município, mas Morro Azul continuou pertencendo a Torres, numa espécie de “fio dental” geográfico. 

Mas em Torres, por sua vez, as lideranças políticas e principalmente empresariais (de hotéis, restaurantes, empresas ligadas ao Turismo) já não queriam mais áreas “do interior”, pois eram consideradas de difícil – e dispendiosa – manutenção (escolas, professores, funcionários públicos, conservação de estradas, iluminação pública, etc.) e pouco retorno em impostos. Torres queria, já há algum tempo (desde a década de 80), ficar com a área “das praias” que proporcionavam maior retorno. 

Em 1995, 8 anos após a realização do plebiscito, foi realizado, então, um novo plebiscito entre a população de Morro Azul para saber se desejava anexar-se ou não a Três Cachoeiras. Em 22 de outubro houve a eleição e 318 eleitores – de um total de 553 inscritos na comunidade – votaram pela anexação. Estava concluído em definitivo o processo de emancipação de Três Cachoeiras.  

Fontes consultadas à época e atualmente: padre Delai, vereadores Pedro Lumertz e Alberi Bento Cardoso, Ronaldo Campos, Tadeu Silva Luz, Olírio Borges, Lídio Stona, João Nicolau Krás – entrevistas ao jornal Zero Hora de 1985 e livro “Três Cachoeiras e Suas Comunidades”, edição Gazeta de 1996 (esgotada), de Ruy Ruben Ruschel e padre Rizzieri Delai.

CRONOLOGIA HISTÓRICA DA EMANCIPAÇÃO

Escrito por Diário Gazeta

– 1956 – 9 de julho – Criação do Distrito de Três Cachoeiras a pedido do vereador  Getúlio Schaeffer. Lei Municipal de Torres 452.

– 1959 – 11 de novembro – Criação oficial da Sociedade Melhoramento e Desenvolvimento de Três Cachoeiras, entidade considerada embrião do movimento emancipacionista.

– 1962 – 16 de dezembro – Criação oficial da Cooperativa de Produtores Agrícolas do Nordeste Gaúcho, outra entidade considerada importante para o movimento emancipacionista, pois reunia os produtores de banana da época.  Primeiro presidente Orlando José Reck.

– 1978 – Criação da Associação de Caminhoneiros de Osório e Torres, com sede em Três Cachoeiras e considerado outro embrião do movimento emancipacionista. Primeiro presidente foi Osvaldo Maggi. Em 1982 deu origem ao atual Sindicato de Condutores Autônomos, Veículos Rodoviários e Transportes Autônomos de Bens de Três Cachoeiras, reconhecido em processo sindical em 2 de setembro de 1982, tendo como presidente Olírio Borges.

– 1986 – 24 de maio – Constituição oficial da Comissão de Emancipação, com os seguintes membros: presidente – José Luiz Maggi; vice-presidente – Ademar Lumertz Borges; 1 e 2 secretários – Davi Evaldt Heizenreder e Eraclides Bock; 1 e 2 tesoureiros – Antonio Moacir Lumertz Borges e Antonio Bernardo da Luz. Conselho Fiscal – Ronaldo  Campos Fernandes, Tadeu Silva Luz, Osvaldo Maggi, Alberi Bento Cardoso, Pedro José Lumertz, João Nicolau Krás e padre Rizzieri Delai.

– 1986 – 5 de agosto –  Comissão de Emancipação solicita credenciamento junto à Comissão de Assuntos Municipalista da Assembléia Legislativa.

– 1986 – 28 de outubro – Comissão de Emancipação solicita autorização para realização da Consulta Plebiscitária.

– 1987 – 22 de setembro – Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul autoriza realização do plebiscito para a população decidir se quer ou não a emancipação.

– 1987 – Entre outubro e dezembro foram interpostos três mandatos de segurança por moradores de Santo Anjo da Guarda contrários à emancipação. Dentre eles o de “Miguelzinho”, proprietário de uma oficina mecânica. Foram dois mandatos junto à Justiça em Porto Alegre e um em Brasília por interesses de políticos de Torres contrários à emancipação porque perderiam espaço políticos (eleitores). Todos mandatos cassados.

– 1987 – 20 de dezembro – Plebiscito junto à população da área emancipada com o seguinte resultado: 2.730 SIM; 500 NÃO; 33 brancos e 19 nulos. Total de 3.282 eleitores que compareceram à votação (de um total de 5.245 eleitores no município à época).

– 1988 – 29 de Abril – Governador Pedro Simon promulga a Lei 8.578 que institui o município de Três Cachoeiras.

– 1988 – 15 de Novembro – Eleições municipais no Brasil para escolha de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Eleitos em Três Cachoeiras o prefeito Alberi Bento Cardoso (PDS), vice-prefeito Ademar Lumertz Borges (PFL) e os vereadores João Valerim Silveira, Valdir Raupp Machado, Celito Rodrigues Mesquita, José Schardosin Justo, Lidio Stona, Pedro Silva Carlos, Afonso Rosa de Oliveira, Edemar Schaeffer Maggi e Osvaldo Boff.  

– 1989 – 1 de Janeiro – Posse do prefeito, vice e vereadores. Instalação oficial do município. 

 – Prefeito Alberi Bento Cardoso discursa após ser empossado pela Câmara de Vereadores em solenidade na Igreja Matriz São José.